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quarta-feira, 11 de maio de 2011

Uma reflexão sobre o dia das mães: o simbolismo do aleitamento materno.


Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume mai., Série 11/05, 2011, p.01-03.




Dia das mães? Não seria melhor, um dia do amor materno?

Dia que nos tirasse das práticas consumistas e que nos fizesse refletir sobre o que seja ser mãe nos dias de hoje?

Comecemos, pois, pela imagem inicial: o filho que se alimenta e a mãe que o come de beijos, em um círculo fechado e fundamental. 

Fundamental, pois esse gesto de amor básico irá condicionar a relação da criança, futuro adulto, com a vida.

A primeira aventura amorosa com a mãe que, simultaneamente, dá leite e mel, ajuda a crescer e repara, ou melhor, preenche todas as carências.

Seio e beijos são uma espécie de sinal verde para a vida.




O leite materno.

No passado, acreditava-se que o leite era sangue embranquecido.

A lactação era o mecanismo que permitia a transformação do sangue que se encontrava no útero, durante a gravidez, em leite que fluísse para os seios.

Da Vinci tem uma gravura que ilustra tal concepção: mostra as veias saindo da parte superior do útero, levando aos seios o sangue catamenial.

Daí a acepção “mãe de leite”.

As mães tinham, então, o domínio sobre o aleitamento e se tornavam nas suas comunidades figuras de grande força, associadas à alimentação e manutenção de pequenas vidas.

A importância do bom leite tinha também forte conotação como valor simbólico.

Aleitar trazia marcas culturais de segurança, de recompensa, de conservação da prole, presentes, aliás, nas representações sobre Nossa Senhora do Leite.

O seio gordo e cheio junto ao rosto do menino traduzindo o espelhamento simbólico do gesto de aleitar na imaginária do período.

A necessidade satisfeita, somada ao prazer dividido e à contemplação profunda entre mãe e filho configura, ontem e hoje, o quadro do aleitamento.




O debate em torno do aleitamento: criticas as amas de leite.

Ao amamentar, a mulher modela a criança à sua imagem e semelhança, e a intimidade nascida do aleitamento forja laços entre ela e seu rebento.

A importância da lactação fora percebida tanto por doutores quanto pela Igreja desde o século XVI.

Já se louvava na amamentação, o prazer de alimentar e acariciar a criança.

No século seguinte moveu-se um ataque cerrado às amas-de-leite por sua relação mercenária com o gesto duplo de alimentar-amar a criança.

Enquanto a amamentação passou a ser um meio de vida para mulheres pobres, mães revezavam-se em torno de fórmulas para conservar a beleza dos seios.

Desde o século XVIII, o aleitamento no seio da mãe é uma constante na literatura de pensadores, médicos e moralistas que combatem toda a forma de aleitamento artificial. 




Concluindo.

Uma existência pode ficar premida entre dois beijos e dois seios: aqueles que se deram e os que não se deram.

Gestos maternos de amamentar e beijar traduzem amor, mas, podem igualmente representar sofrimento.

Basta que sejam recusados.




Para saber mais sobre o assunto.

DEL PRIORE, Mary. A Família no Brasil Colonial. São Paulo: Editora Moderna, 1999.

DEL PRIORE, Mary. Ao sul do corpo, Condição Feminina, Maternidades e mentalidades no Brasil Colônia. UNESP: São Paulo, 2009.

DEL PRIORE, Mary. “A vida cotidiana no Rio de Janeiro” In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, v. 436, 2007, p. 313-333.

DEL PRIORE, Mary. A História das Crianças no Brasil. São Paulo: Contexto, 1999.

DEL PRIORE, Mary. “Crianças e adolescentes de ontem e de hoje “ In: Helena Bocayuva e Sílvia A. Nunes. (Org.). Juventude, subjetivações e violências. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2009, p.11-24.

DEL PRIORE, Mary. Histórias do Cotidiano. São Paulo: Contexto, 2002.

DEL PRIORE, Mary. L'Histoire de la vie privée dans le monde luso-americain: l'exercice d'une nouvelle approche? In : Cahiers de L'histoire Du Brésil, Sorbonne - Paris, 2000.




Texto: Profa. Dra. Mary Del Priore.

Doutora em História Social pela USP, com Pós-Doutorado na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales (Paris/França).

Lecionou História do Brasil Colonial nos Departamentos de História da USP e da PUC/RJ.

Autora de mais de cinqüenta livros e atualmente professora do Programa de Mestrado em História da Universidade Salgado de Oliveira - UNIVERSO/NITERÓI.

Membro do Conselho Editorial de "Para entender a história..." desde 14/01/2011.

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Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

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